27.1.09

Sapal de Corroios - a história...

Neste post pretende-se dar a conhecer todo o processo do Sapal de Corroios, desde 2001 até aos dias de hoje.



Localização do Sapal de Corroios:

  • Moinho de maré de Corroios e a restinga da Ponta do Mato;
  • Com cerca de 143ha;
  • Domínio Público Hídrico, abrangida pela legislação da Reserva Ecológica Nacional.




Actividades desenvolvidas no Sapal:

  • Em 1945 deu-se início à primeira actividade piscícola;
  • Nestas explorações tradicionais o investimento e a intervenção humana eram mínimos.


O Atentado Ambiental no Sapal de Corroios – o início...

  • Em 1997 a empresa Viveilis – Viveiros de Peixe, Lda., apresentou à Direcção Regional de Ambiente de Lisboa e Vale do Tejo (DRALVT), um novo projecto;
  • Que incluía um reservatório, 15 tanques para engorda de peixe e duas lagoas de sedimentação;
  • Zona numa exploração em regime intensivo, envolveu cerca de 17,3ha da área do sapal, sendo construído com o apoio financeiro dos Fundos da União Europeia.



O Atentado Ambiental no Sapal de Corroios – a Destruição...

Em 2000, deu-se início à obra impedindo que as águas invadissem o viveiro, de modo a secar as lamas no seu interior, causando impactes negativos para as espécies ocorrentes…







Em 3 de Maio de 2001, várias entidades foram alertadas da movimentação de máquinas e terras junto ao Sapal de Corroios;


Atentado Ambiental no Sapal de Corroios, onde se deu o início da destruição de um terço deste importante ecossistema...





(veja o video da destruição em:
http://www.youtube.com/watch?v=x3vIKRhFA2c )



Meses antes do inicio da destruição do Sapal, a Câmara Municipal do Seixal ordenou a retirada de placas que identificavam a zona como Reserva Ecológica Nacional!








Formação do Grupo em Defesa do Sapal de Corroios (actual Grupo Flamingo)






Em 21 de Agosto de 2001, a CMS embargou a obra, invocando a falta de licenciamento Municipal;




Em 30 de Abril de 2002, o Grupo Flamingo, denunciou e enviou à Comissão Europeia um relatório a explicar toda a situação decorrida no Sapal de Corroios.




…mas as obras continuaram







Em 23 de Outubro de 2002, procedeu-se ao embargo coercivo às obras de construção do viveiro pertencente à Viveilis, por parte da CMS…
… As obras param…



No dia 28 de Fevereiro de 2003, o secretário de Estado Adjunto e do Ordenamento do Território, admite que a tutela cometeu uma irregularidade ao autorizar a construção de uma piscicultura no Sapal de Corroios;




Declara nula a licença emitida e refere que a CCDR-LVT deverá acompanhar a reposição do sapal





Em Maio de 2003, foi entregue um abaixo assinado com cerca de duas mil assinaturas, que apelava à reposição da área destruída e à preservação do Sapal de Corroios…



A área destruída com cerca de 17,3ha nunca foi reposta, e não se verificou qualquer iniciativa por parte da Autarquia em pressionar a empresa ou as entidades competentes para a reposição do Sapal;



Verificou-se que parte dos tanques ficaram submersos através da acção das marés, o que se conclui que a natureza tende a repor o seu estado natural, mesmo sem a ajuda daqueles que o destruíram…






No dia 7 de Dezembro 2007 decorreu uma sessão pública, por iniciativa da CMSeixal onde se constata que foi entregue um novo projecto pela empresa Viveilis para o recomeço das obras no Sapal de Corroios…




… o projecto é o mesmo de 1997…



Com a nova alteração da Lei da REN, presentemente é permitido que se desenvolvam este tipo de infra-estruturas em locais frágeis como o Sapal de Corroios…


Para as obras avançarem bastava a aprovação do executivo camarário

A Câmara do Seixal aprova tanques para engorda artificial de peixes no Sapal de Corroios e permite a destruição do mais importante património natural do concelho


com nove votos a favor do senhor Presidente da Câmara, Alfredo Monteiro e dos senhores vereadores, Corália Loureiro, Joaquim Santos, Jorge Silva, Carlos Mateus, Paula Santos, Menezes Rodrigues, Samuel Cruz e José Assis e duas abstenções dos senhores vereadores João Seabra e Manuel Pires, o licenciamento da piscicultura no Sapal de Corroios.




É pena que o Sr. Presidente da CMSeixal mude de opinião em sete anos decorridos..



Será que se esqueceu do que prometeu?



(veja o video em: http://www.youtube.com/watch?v=YVq3GSK17S8 )



O que eles escreveram no Boletim Municipal do Seixal n.º 325, de 13 de Julho de 2001, página 7


O que o Município exige é que seja reposto o sapal de Corroios e que as actividades que possam ter interesse económico não podem pôr em questão um património natural que sempre defendemos e preservamos. A Câmara Municipal, com as instituições e as pessoas, será um defensor intransigente deste património do nosso concelho e do Tejo.”



Posição actual da Câmara Municipal do Seixal:


(veja o video em: http://www.youtube.com/watch?v=opoenTYmhnE)


É esta a Herança que quer deixar aos seus filhos?






Subscreva o abaixo-assinado



Ajude-nos a salvaguardar o Sapal de Corroios!


http://www.petitiononline.com/sapal_09/









22.1.09

SPEL - Uma Herança Ácida

A inexistência de uma adequada gestão de ambiente no sector industrial ao longo das últimas décadas tem levado à deposição indiscriminada de diversos tipos de resíduos industriais, com a consequente contaminação dos solos.

No concelho do Seixal, este problema é agravado pela proximidade à capital, que favorece a criação de fluxos clandestinos de resíduos industriais perigosos e banais, que têm como destino areeiros abandonados e outros terrenos degradados.

Com o intuito de procurar soluções para as situações problemáticas de deposição e abandono de resíduos industriais perigosos, têm sido realizados esforços junto das entidades competentes, particularmente do Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente e do Ministério da Economia.

Neste sentido, em 2000, com vista a caracterizar a situação do município, estabeleceu-se um protocolo com o Centro de Investigação em Geociências Aplicadas (CIGA), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL), no âmbito do qual foi elaborado o Plano Estratégico de Avaliação da Contaminação e Reabilitação dos Solos do Concelho do Seixal (PEACRSCS).

Este plano tem por objectivo o desenvolvimento de uma metodologia de avaliação e hierarquização dos locais que apresentassem maior risco de contaminação dos solos, numa fase preliminar de diagnóstico do estado do ambiente. Deste trabalho resultou um mapa de diagnóstico do estado dos solos do concelho que constitui uma base de decisão para futuros trabalhos de investigação e remediação.

Dos vários locais inventariados pelo estudo, escolheu-se a área afectada pela Sociedade Portuguesa de Explosivos – SPEL que apresenta prioridade máxima.

Durante décadas as águas ácidas e poluídas provenientes da produção de explosivos foram despejadas directamente nos terrenos arenosos onde estava a fábrica e depois eram rapidamente absorvidos pelas areias, contaminando quer solos, quer o aquífero aí existente.

Pretende-se fazer uma abordagem aos efeitos destes contaminantes no ambiente e no Homem, e identificar possíveis soluções que se poderiam aplicar nas áreas contaminadas.


A SPEL exerceu actividade de produção de explosivos no local com cerca de 70 há, em Santa Marta de Corroios, durante cerca de cinco décadas.


Sendo a actividade desta empresa, a produção de explosivos para operações militares, e consequente geração de efluentes contendo ácido sulfúrico, ácido nítrico e nitratos de tolueno despejados directamente em fossas escavadas nas areias, sem sofrerem qualquer tratamento (a existência de lagoas de tratamento de águas residuais data apenas 1998) e outras operações, tais como, a existência de um vazadouro não controlado para resíduos da produção, a queima das lamas geradas no tratamento das águas residuais, ou o armazenamento dos solos contaminados, nos terrenos das instalações, indicam que a contaminação dos solos e das águas subterrâneas atinjam proporções muito elevadas.


Aquando da saída da SPEL deste local, para as novas instalações em Alcochete os processo de eliminação e descontaminação, efectuados por esta empresa, consistiram em:

  • Incineração “controlada” de produtos deteriorados ou fora do prazo no interior das instalações;
  • Queima, após rega com gasóleo, de paredes e outras superfícies susceptíveis de conter resíduos de produtos contaminantes;
  • Remoção de solos escavados em valas com profundidade da ordem dos 1 a 2m e sua colocação em outras áreas no interior das instalações.

No exterior das instalações da SPEL, existem muitos indícios que apontam para a existência de um importante foco de contaminação com origem no seu interior, designadamente:

  • Contaminação detectada em 3 furos particulares (Quinta da Teresinha, areeiro da SOCRABINE e GALP (A2, km 12)) e na lagoa do areeiro abandonado da SOCRABINE; valores que excedem o VMA em sulfatos, nitratos (7 vezes mais), pH (acidez), metais pesados (Pb – chumbo, 46 vezes acima; Mn – manganésio, 120 vezes acima); vestígios de TNT e DNT, que tornam iniludível a origem da contaminação da SPEL;
  • Cor avermelhada nas águas da lagoa da SOCRABINE, nas águas de captações e numa aquacultura no esteiro de Corroios.
Consequências

Os efeitos das descargas efectuadas pela SPEL directamente sobre o solo, originou um grave problema ambiental: a contaminação dos solos e consequentemente a do aquífero livre. Esta contaminação poderá representar diversos riscos para a Saúde Pública, dos quais destaca-se como situação de maior risco seria possibilidade de se beber a água contaminada.

O aquífero não é utilizado para abastecimento da água de consumo, mas no entanto não existe qualquer controle de furos particulares. Além disso, existe também o problema da utilização desta água para rega de hortas, cujos alimentos deverão apresentar valores de contaminantes a cima do dos valores máximos para consumo humana. No entanto, para se poder calcular o risco efectivo seria necessário determinar com rigor todos os poluentes existentes na água, e em que condições.

Podemos também realçar os prejuízos de quem investiu em furos, para depois recolher uma água poluída e dos particulares que são obrigados a pagar dezenas de contos por mês para utilizar água da rede em finalidades que podiam ser supridas através de uma captação própria. A proliferação incontrolada de furos particulares, no entanto, é um problema, em si, para a gestão de aquíferos.



Consequêcias para o Ambiente




Consequêcias para o Homem



Biorremediação

As tecnologias de tratamento de solos contaminados devem ser encaradas como etapas do plano de remediação, já que por vezes não são aplicadas isoladamente mas em combinação sequencial com outras, constituindo os designados “combóios de tratamento” (treatment trains).

As tecnologias de descontaminação podem ser classificadas segundo vários critérios, como por exemplo: objectivo, estado de desenvolvimento, localização do tratamento, processo principal, aplicabilidade aos diferentes tipos de solo, aplicabilidade às classes de contaminantes, destino final dos contaminantes, custos etc.

Os métodos de descontaminação de solos que visam reduzir a concentração e/ou toxicidade dos contaminantes são designados por métodos de tratamento (sentido estrito), enquanto que os que têm como principal objectivo a redução da mobilidade dos contaminantes são chamados métodos de confinamento. Todos são incluídos no conceito lato de tecnologias de tratamento.

Segundo o relatório em estudo, a melhor técnica a utilizar para a descontaminação do local é a Bioremediação. Esta técnica consiste na actividade de microorganismos autóctones ou alóctones que são estimulados através da circulação de soluções aquosas, de modo a promover a degradação dos contaminantes orgânicos ou a imobilização dos inorgânicos. O fornecimento de nutrientes, oxigénio (no caso de processo aeróbio), ou de outros aditivos, constitui um modo de optimizar o processo.

Geralmente utilizam-se galerias de infiltração ou irrigação por aspersores no caso de solos contaminados superficialmente, e poços de injecção quando a contaminação atinge profundidades razoáveis. Este tipo de tratamento biológico tem sido aplicado com sucesso na descontaminação de solos, lamas e águas subterrâneas contaminadas com hidrocarbonetos derivados do petróleo, solventes, pesticidas, conservantes de madeira e outros compostos orgânicos.

Estudos piloto têm demonstrado a eficácia dos processos de degradação anaeróbia no tratamento de solos contaminados com nitrotoluenos (TNT e DDT, por exemplo) e derivados de resíduos de munições.


Conclusão

A continuidade do aumento da contaminação do aquífero devido às actividades antropogénicas do passado e do presente, em particular das industrias transformadoras (na qual de inclui a SPEL), com os mais diversos tóxicos, torna imprescindível o conhecimento do comportamento destes compostos no meio ambiente, de modo a minimizar os riscos para a Saúde Pública e Ambiente.

Urge a descontaminação deste local, para que as consequências da poluição não se tornem nefastas quando o aquífero do qual se retira água para o abastecimento público for atingido.
Uma outra questão que se coloca em todo este processo consiste em definir quem irá pagar por esta despoluição.

O estado tem suportado os custos de limpeza de vários locais com “contaminação histórica”, como a zona da expo98.

A SPEL contribuiu para a despoluição dos solos que serão vendidos para urbanização, mas não se mostra inclinada a contribuir para a eventual despoluição doa aquíferos. E, mesmo que eventualmente participe no esforço financeiro, a factura acabará por pesar no bolso dos contribuintes, pois a empresa é de capital maioritariamente público.


Bibliografia
“Plano Estratégico de Avaliação da Contaminação e Reabilitação dos Solos do Concelho do Seixal”, Relatório Final – Centro de Investigação em Geociências Aplicadas, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. 2001.
Mendes, B; Santos Oliveira, J.F. – Qualidade da Água para Consumo Humano – LIDEL, ISBN: 972-757-274, 2004
Garcia, R. - SPEL deixa herança ácida. Público. 12 de Março 2001.
Quental, N. - A Bioremediação de Solos Contaminados – disponível em http://naturlink.pt (consultado em Novembro, 2005)

20.1.09

Poluição: causa para o desaparecimento da Ostra Portuguesa

“ O ambientalismo […] vê a humanidade como uma espécie biológica estritamente dependente do mundo natural […] Muitos dos recursos naturais da Terra estão em vias de exaustão, a química da sua atmosfera está a deteriorar-se e as populações humanas já cresceram de forma excessivamente perigosa. Os ecossistemas naturais, as nascentes de uma ambiente saudável, estão a ser irreversivelmente degradados […] Sou suficientemente radical para levar a sério a questão ouvida cada vez com mais frequência: A humanidade é suicida?” (Edward O. Wilson, “Is Humanity Suicidal?”, New York Times Magazine, 30 de Maio de 1993, p.27).


O Rio Tejo é um rio internacional, com um percurso superior a mil quilómetros, que atravessa não só Espanha (onde se dá o inicio da degradação das suas águas) como atravessa ou ladeia cerca de 30 municípios ribeirinhos, entre os quais o Seixal, que se localiza no Estuário do Tejo.

O Concelho do Seixal foi criado a 6 de Novembro de 1836, em que as suas principais povoações – Corroios, Amora, Torre da Marinha, Paio Pires - se desenvolveram à beira do Rio Tejo. Por este Concelho se situar num local privilegiado, onde o rio entra pela terra dentro, formando um conjunto de esteiros, desenvolveram-se várias actividades relacionadas com a vida fluvial e marítima, como a pesca, a exploração das marinhas de sal, a construção naval, os transportes fluviais e o aproveitamento da energia das marés.

Uma das actividades económicas que aqui se desenvolveu bastante foi a apanha de marisco, nomeadamente a apanha de ostras. “Em 1866 uma casa francesa mandava aqui apanhar grandes quantidades que se destinavam à exportação e em 1894 a companhia “The Anglo Portuguese Cyster Company” explorava as ostreiras do Concelho. Em 1961, foi fundada a Expor – Sociedade de Exploração de Ostras Portuguesas, com sede e expedição na Vila do Seixal. Esta firma explorava as concessões doas bancos ostreílocas, numa área superior a 100 hectares, na Ponta dos Corvos, na Azinheira e dentro do Rio Judeu.

Esta empresa, entre 1962 e 1967, exportou anualmente uma média de 400 toneladas de ostras, para vários pontos do globo, mas principalmente para França. Empregava os designados mariscadores, sobretudo mulheres e jovens, que em rancho apanhavam as ostras. Na semana santa, faziam-se grandes festas nas praias do Seixal (Ponta do Mato), onde o povo comia ostras ao natural, abertas em chapas colocadas sobre fogueiras acesas para esse fim.

Os bancos de ostras não se limitavam ao Concelho do Seixal, estendiam-se por toda a margem sul, desde o Alfeite até Alcochete, incluindo o Barreiro, Moita e Montijo. Na totalidade, os bancos de ostras do Tejo ocupavam uma área muito próxima de um milhar de hectares. Existiam no Tejo, no ano de 1960, 120 empresas concessionadas, enquanto que em 1972 existiam apenas 8.” (LIMA, M. 1992).

Entre 1950 e 1970 registaram-se vários factores que contribuíram para a degradação do Estuário do Tejo, desde o grande desenvolvimento urbano à sua volta até à fixação de indústrias altamente poluentes.

O desenvolvimento urbano trouxe como consequência para o Estuário o aumento excessivo da poluição orgânica, com altos valores de contaminação bacteriológica, tornando estes locais impróprios para qualquer prática balnear ou até mesmo para o desporto náutico.

Em relação à instalação de vários ramos da indústria pesada, em redor do Mar da Palha, pode-se destacar três grandes industrias, o Complexo do Barreiro (CUF, hoje Quimigal) que libertava diversos metais pesados (mercúrio, arsénio, zinco, cobre, cádmio, ferro e chumbo), a Siderurgia Nacional e a Lisnave, que contribuíram em grande parte para a degradação da área de estuário compreendida pelos Concelhos do Seixal, Almada e Barreiro.

A Lisnave deve de ser a indústria que mais contribuiu para o desaparecimento da ostra portuguesa, uma vez que na reparação naval, eram utilizadas tintas TBT nos cascos das embarcações que tinham como objectivo o impedimento da incrustação de gastrópodes no casco. O uso deste tipo de tintas, que é altamente tóxico para os bivalves, provocando anomalias na calcificação, perturbações na embriogénese e no crescimento larvar e juvenil e origina alterações hormonais, provocando o aparecimento de um falso pénis nas fêmeas.

Devido a estes factores todos conjugados, os bancos de ostras ficaram praticamente reduzidos a zero na década de oitenta.

“Se no passado muitas foram as famílias do Concelho do Seixal que viveram da exploração do marisco, desde a apanha da ostra que se destinava à exportação e ao consumo interno, passando por todos os outros bivalves, que eram levados para o mercado da Ribeira, em Lisboa, hoje em dia é pouco significativa a sua captura, muitas vezes proibida devido à má sanidade das águas do rio.” (LIMA, M. 1992)



Análise Económica

Ao se efectuar uma primeira análise ao problema ambiental, verifica-se que se está presente de uma externalidade negativa – poluição industrial e doméstica. Ou seja, a indústria e o crescimento populacional, resultaram num aumento do nível de poluição no Estuário do Tejo, existindo um efeito prejudicial, mas não intencional, na qualidade da água do estuário. Como consequência da poluição, deu-se a extinção da ostra portuguesa, e consequentemente, de todas as empresas que tinham como actividade económica a exploração dos bancos de ostras.

Como este desaparecimento não foi pago por nenhum dos produtores da poluição, está-se perante uma deseconomia externa. Identificada a externalidade negativa, surgem uma série de questões em volta, ou seja, no passado o que se deveria ter feito para controlar a externalidade, para afectar os responsáveis para atingir a melhor decisão económica, que intervenções deveriam ter sido feitas, e que instrumentos de política do Ambiente poderiam ter sido aplicados.

Em geral, para controlar a poluição, os economistas procuram determinar o nível eficiente de poluição no equilíbrio dos custos e benefícios sociais, mais concretamente, na igualdade entre o beneficio social marginal da despoluição e o custo social marginal da despoluição, (SAMUELSON, 1999).

Os controlos directos, que foram utilizados no problema da poluição do Estuário do Tejo, consistem nos critérios de Qualidade Ambiental, e nos critérios de Saúde Pública.

Em relação às indústrias, nomeadamente à Lisnave, foi imposto pela Comissão Europeia (CE) a proibição do uso de tintas TBT em navios dos países membros. Esta medida foi bastante contestada por prejudicar financeiramente os estaleiros europeus de reparação naval, uma vez que só a partir de 2008 é que todos os navios que entrem no espaço comunitário, é exigido o uso de tintas “amigas do ambiente”, além de que o preço destas novas tintas tende ser mais elevado.Com esta decisão, os estaleiros navais temem perder encomendas para os países orientais, onde não são abrangidos por esta norma. Esta medida adoptada pela CE, foi uma politica que “obrigou” os estaleiros navais (inclusive a Lisnave) a reduzir a emissão de poluentes nocivos à vida marinha, ou seja, “obrigou” as empresas a aumentar os seus custos marginais da remoção da poluição, diminuindo o uso de tintas poluentes – aumento dos benefícios marginais da remoção da poluição. Ao impor esta norma, a CE, pretendeu controlar a externalidade, através de uma análise custo benefício.

De um modo semelhante, foi imposto também pela CE, que todas as indústrias e todos os Municípios deveriam de ter os seus efluentes residuais tratados antes de serem descarregados no rio, de modo a reduzir a poluição. Neste caso, existem programas de apoio à construção das infra-estruturas responsáveis por estes tratamentos (ETAR e ETARI) embora exista sempre um aumento dos custos associados à implementação destas tecnologias por parte da empresa/município.

Os programas governamentais antipoluição têm os seus resultados a médio/longo prazo, e neste caso, quando foram implementados já os bancos de ostras se encontravam extintos.

Embora já se verifique uma melhoria da qualidade da água no estuário, a introdução da ostra no seu habitat tem tido resultados negativos, uma vez que os níveis de poluição ainda são elevados. Muitas indústrias e municípios ainda não têm os seus efluentes tratados, o que acima de tudo constitui um perigo para a Saúde Pública, se considerarmos que a população das zonas ribeirinhas continuam a ter os mesmos hábitos de alguns anos atrás: a apanha de bivalves e a utilização das praias fluviais para fins de lazer e recreativos continuam a ser uma realidade.



Excerto de uma reportagem de Gonçalo Bofill
2005-06-11
Ao ser informado que, nas marés mais baixas, um grande número de pessoas se dirigia para a praia do Clube Naval a fim de apanhar lingueirão, situação que apontava ainda para a venda destes bivalves, de forma clandestina, em restaurantes, o delegado de Saúde decidiu intervir.

Segundo Mário Durval, esta prática, para além de ilegal, “fere regras básicas para a defesa da saúde das populações”, dado que a praia do Clube Naval encontra-se interdita para fins de uso balnear por excesso de microorganismos de origem fecal. “Naturalmente a utilização para fins alimentares implica uma restrição ainda maior quanto à quantidade de microorganismos”, sublinha.

Mas existem outras condicionantes que levam a que esta apanha seja considerada de “grave risco para a saúde pública”, pois de acordo com o despacho n.º 13433/2003 publicado no D.R. II série N.º 156 de 9 de Julho, todas as zonas de apanha/cultivo no estuário do Tejo pertencem à classe sanitária C, considerada como sendo a pior do ponto de vista sanitário.
Mário Durval salienta que os bivalves provenientes das zonas com estatuto sanitário C não podem ser comercializados para consumo humano directo. “Para tal necessitariam de uma depuração longa, cuja definição ainda não foi efectuada, pelo que o IPIMAR, apenas aconselha às estações depuradoras a utilização de produtos provenientes de zonas com, pelo menos, estatuto sanitário B”.

Os bivalves provenientes do estuário do Tejo têm apresentado, ainda, em muitas situações, um teor de chumbo que viola o limite estabelecido no regulamento CE n.º 221/2002 da Comissão de 6 de Fevereiro de 2002.

Importa ainda referir que estes bivalves, após a apanha, não têm qualquer controlo sanitário.

Face a toda esta situação, o delegado de Saúde do Barreiro decidiu interditar a apanha de bivalves na Praia do Clube Naval e solicitar à Polícia Marítima que nas referidas situações de maré faça cumprir aquela determinação, pedindo também à Câmara Municipal do Barreiro a colocação de painéis informativos desta determinação, junto à praia e que elabora um plano de vigilância.

Com estas medidas, Mário Durval espera que esta prática pare, acrescentando que outras acções irão ser tomadas, nomeadamente a vigilância e controlo feitos nos mercados e estabelecimentos que comercializem estes bivalves.

O delegado de Saúde do Barreiro referiu ainda que todos os outros responsáveis pela saúde pública dos concelhos limítrofes serão alertados para esta situação.



Bibliografia:

LIMA, M. (1992), Bivalves e Gastrópodes das praias do Seixal, CMS.

Silva, E. (1981) História do Concelho do Seixal, CMS

SAMUELSON, P.; NORDHAUS, (1999), Economia, 16ª Edição McGraww-Hill
KOLSTAD, C. (2000), Environmental Economics, Oxford University Press.

18.1.09

Sapal: o que é, sua importância.

Sapal

Um sapal é um habitat húmido, ou zona húmida, com vegetação característica que tolera um solo salino – vegetação halófita. Os sapais desenvolvem-se em torno de estuários e no lado abrigado de línguas de areia e cascalho. Possuem habitualmente uma rede de braços e de canais de drenagem, através dos quais as águas das marés entram e saem do sapal.


Qual a importância do Sapal?

Os sapais desempenham um papel regulador fundamental em termos do ciclo hidrológico pois permitirem:

  • a deposição de matéria orgânica e nutrientes (como o fósforo e o azoto), transportados pela água dos rios e marés, em que a sua acumulação ou incorporação na vegetação residente, tornam estas zonas em ecossistemas húmidos bastante produtivos;

  • o controlo de cheias e inundações nas zonas adjacentes:;

  • a recarga de aquíferos e de purificação de águas doces;

O Sapal é, ainda, um amortecedor de temporais, absorvendo a grande energia das ondas de tempestade e actuando como reservatório das suas águas reduzindo assim os danos para o interior.

Além disso, os sapais contêm uma enorme diversidade faunística e florística de relevo nacional e internacional, principalmente como habitat aves aquáticas (migratórias ou não), crustáceos, bivalves e constituem abrigo e protecção dos peixes juvenis contra predadores, garantindo a sua sobrevivência e a manutenção dos stocks de pesca das zonas costeiras adjacentes.

No entanto, é de ressalvar que os sapais são ecossistemas frágeis e encontram-se entre os mais ameaçados a nível global, pelo que deverão ser explorados cuidadosamente, de forma a manter a sua herança cultural e natural, beneficiando residentes locais e visitantes. Por exemplo, a interferência com o movimento natural dos sedimentos e dos nutrientes, quer por pressões urbanísticas, quer por contaminação dos sapais por efluentes industriais, agrícolas ou domésticos ou alteração da morfologia do sapal pelas intensificações de pisciculturas, pode ter graves consequências sobre ele e zonas adjacentes, nomeadamente pelo aumento da sua degradação e erosão e pela redução de biodiversidade.


A conservação, valorização e criação adequada das ZH são assim aspectos de grande relevância. Daí que, desde 1997, se celebre o dia mundial das zonas húmidas a 2 de Fevereiro, data em que foi assinada a Convenção de Ramsar.



Zonas Húmidas em Portugal

As Zonas Húmidas ocupam apenas 3% do território europeu. Em Portugal foram identificadas 49 ZH, estando algumas classificadas como sítios Ramsar, totalizando uma área de 66 094 ha. O Estuário do Tejo, a mais importante zona húmida do país e uma das dez mais importantes da Europa, onde se inclui o Sapal de Corroios, e a Ria Formosa foram os primeiros sítios Ramsar designados em 1980.
(fonte: Confagri; Wikipédia)

Caminhada a Sintra

As caminhadas com o Grupo Flamingo voltaram!

Desta vez foi em Sintra.

Para o nosso grupo foi a primeira incursão pela Serra de Sintra, local único pela sua diversidade vegetal e/ou arbórea, pelas suas quintas ladeadas por muros velhos cobertos de musgo e trilhos com cheiro a humidade.

Percorremos duas pequenas rotas, sugeridas pela Câmara de Sintra, concretamente pelo departamento de turismo, designadas por PR2 e PR5, Castelo e Quintas, respectivamente.

A actividade foi composta por duas partes. A primeira PR foi a do Castelo, que se iniciou junto da Câmara de Sintra, Volta do Duche, e terminou junto do Palácio da Vila, onde fizemos um pequeno intervalo para repor energias. A segunda parte iniciou-se junto do Palácio da Vila, e seguimos em direcção da Quinta da Regaleira onde entramos no percurso das Quintas.

Foi uma caminhada caracterizada como dificuldade Alta devido aos desníveis do terreno, mas a actividade correu muito bem e permitiu desfrutar daquela bela região que possui um património natural único no mundo.

A próxima caminhada será em Montemor-o-Novo. Até lá.

12.1.09

Sapal de Corroios

Grande parte da população do Concelho do Seixal quando ouve falar do Sapal de Corroios pensa logo em lixo, lama, mosquitos e maus cheiros. Por um lado não deixam de ter razão, mas o que não quer dizer que sejam estas as características deste ecossistema, isto deve-se fundamentalmente ao abandono que esta área esteve dotada pelo homem ao longo dos anos, despejando ali entulhos, monstros domésticos e todo o tipo de lixo.

Tempos houve em que todos os esgotos descarregavam para o Sapal. É também anexo a esta zona que se situa a estação de tratamento de águas residuais (ETAR) da Quinta da Bomba que, embora de inquestionável importância pois trata todos os efluentes domésticos que outrora corriam para o Sapal, por vezes o seu funcionamento provoca maus odores nas localidades adjacentes e que erradamente são atribuídos ao Sapal de Corroios.

O nome Sapal é assim dado por possuir uma vegetação própria das zonas húmidas, particularmente de águas salobras, cuja formação é tipicamente recortada em pequenas ilhas cobertas de vegetação, intercaladas por uma rede imbricada de linhas de água de fundo lodoso. Aqui é produzida matéria orgânica que é a base cadeias alimentares do estuário do Tejo, servindo de sustento a todos os animais do estuário, nos vários níveis tróficos. A vegetação que cobre e descobre consoante as marés, produz uma quantidade elevada de oxigénio e tem a capacidade de fixar junto às raízes os metais pesados, produzidos pela industria metalúrgica pesada que durante anos se estabeleceu na margem esquerda do rio Tejo, reduzindo assim o risco para a saúde humana.
A área do Sapal de Corroios é uma zona de Domínio Público hídrico, abrangida pela legislação da Reserva Ecológica Nacional e desempenha um papel vital para as populações de peixes, bivalves, crustáceos e aves limícolas, residentes e migratórias do estuário do rio Tejo.

Noutros tempos a população retirava daqui a sua forma gratuita de alimento, nomeadamente em ostras, berbigão, amêijoa, canivete e mexilhão, e com a actividade da apanha de isco para a pesca.
A nível da fauna constituí protecção e abrigo para muitas espécies de peixes que aqui vem fazer a desova como a Tainha, o Robalo, o Linguado, a Dourada, o Sargo, a Solha e a Enguia. Para as aves, em especial as limícolas, é um local para a recuperação de forças nos trajectos migratórios que estabelecem, nomeadamente entre muitas espécies o Flamingo, o Perna-Longa, o Maçarico, o Alfaiate, a Andorinha-do-Mar, a Tarambola, a Garça-Real (símbolo do nosso concelho), o Pato Real e a Águia Sapeira ou mesmo a Águia Pesqueira.
Pois é, a Águia Pesqueira que há pelo menos 5 anos visita o nosso Sapal, é uma das espécies mais ameaçadas do mundo e que actualmente não se reproduz em Portugal. Segundo especialistas, são apenas quatro as Águias Pesqueiras que visitam o nosso país vindas da Finlândia, estando uma delas no Sapal de Corroios torna-o assim especial e aumenta a nossa responsabilidade na preservação destes 55 hectares do concelho do Seixal.

Como vê o Sapal de Corroios não é apenas uma zona de mosquitos, lodo e mau cheiro. É um Museu vivo de história natural. Aproveite para o conhecer pessoalmente, visitando o "coração" da Reserva Ecológica Nacional do Concelho do Seixal.